COBERTOS PELO CÉU

Discursos traduzem paisagens, culturas espelham panoramas? Somos os ambientes em que vivemos? Até onde a geografia integra-se na arte? Até onde a arte promove espaços de convivência, espaços de atravessamento, espaços inomináveis? Como a coreografia pode ser alinhada à exibição na refabricação de uma experiência?

Cobertos pelo Céu é uma coleção de instalações e performances centradas nas relações entre paisagem e arte, experiência e discurso poético. Concebido pelo coreógrafo e artista Gustavo Ciríaco, o projeto é movido pela curiosidade de como a criação de espaço e experiências de paisagem se cruzam na assinatura poética de artistas da música, da dança, da escultura, da pintura e  da performance.

O projeto revisita as experiências dos artistas portugueses Jonathan Uliel Saldanha (Música), Cláudia Dias (Dança), João Gabriel Oliveira (Pintura), Miguel Palma (Escultura), das artistas brasileiras Luciana Lara (Dança), Michelle Moura (Dança), João Saldanha (Dança), da argentina Ana Laura Lozza e Barbara Hang (Dança), da chilena Javiera Péon-Veiga (Dança e Performance). Esses artistas, apesar de atuarem em diferentes campos da arte, possuem um traço que os aproxima: a noção de território, sua transformação poética rumo a um universo próprio.

Ao mergulhar nas obras e nos diálogos com artistas portugueses e latino-americanos, o desejo é refletir sobre como essas poéticas espaciais envolvem antecedentes culturais e como estariam relacionadas ao que o sociólogo Boaventura de Sousa Santos defende em suas Epistemologias do Sul como a diversidade epistemológica do mundo, ou seja, a sabedoria que mulheres e homens não dominantes adquiriram ao lidar com o mundo ao longo da história. Cobertos pelo céu procura, assim, tornar visível e experiencial o processo dinâmico através do qual as arquiteturas efêmeras particulares desses artistas são criadas e ajudar a repensar o inominável que eles convocam.

Em Utopia de Thomas More, um marinheiro experiente em sua descoberta do mundo fala de um território distante que veio a conhecer, chamado Utopia, onde a civilização aparentemente tinha atingido seu estado mais ideal e justo. Este livro tornou-se uma referência para pensar noções de nosso contrato social e formas de convivência, no entanto, utopia ainda é uma palavra marcada por um caráter fantasioso, pensada como imaginária, inexistente, um lugar inalcançável, um clichê de um território que nunca será real. A atualização do conceito de utopia parece-me estar ligada à capacidade de fantasiar e manipular poeticamente a noção de realidade. É na nossa imaginação que reside a sua força e o seu poder. Em Grandes Sertões Vereda, do escritor brasileiro Guimarães Rosa,  a paisagem torna-se uma experiência sensorial através da linguagem inventada pelo autor que advinha o selvagem, o relevo, a forma e a singularidade da paisagem remota do interior do Brasil. De modo semelhante, Cobertos pelo céu, pretende-se uma jornada sensorial conhecendo artistas e lugares, colectando suas diferentes perspectivas espaciais e compartilhando seus modos de serem espelhos do mundo.

Entre o sentir e o perceber, em uma exposição imersiva, o público é convidado a ser testemunha e ator. Do mesmo modo como levamos alguém para passear, experimentando o caminho, os obstáculos do solo, esses dioramas cinéticos de fruição buscam reunir a experiência dos visitantes  com a sensibilia dos artistas convidados em uma mise-en-abîme em movimento.

Reacto com esse projeto dois pontos de minha trajetória: o de cientista social e o de artista. Ele é o início de uma resposta em duas potências. É a continuação de um entendimento, mas ao mesmo tempo um passo além. E além está além, está além… Sem medo, pois, nas palavras do marinheiro retratado por Thomas Morus, os mortos insepultos, cobertos pelo céu, serão.

Coleção Latinoamericana – obras site-specific

lawal | Javiera Péon-Veiga (Chile) – 2021

vastidão | Michelle Moura  (Brasil) – 2022

paisagem em linha | Luciana Lara (Brasil) – 2021

paisagem boldo | João Saldanha (Brasil) – 2022

hormiga-pájaro | Ana Laura Lozza (Argentina) – 2022

Otro ser | Barbara Hang (Argentina)

Coleção Portuguesa

poderiapoderá João Gabriel

Roda-Viva Cláudia Dias – 2024

Sempre-nunca (título provisório) Jonathan Uliel Saldanha

Cérebro Miguel Palma

PODCAST

O projeto alternou períodos de entrevistas com os artistas convidados e a criação das obras da coleção. Um registro parcial dessas entrevistas integra o podcast Um Rádio na Paisagem (clique no nome para aceder às conversas)

VÍDEOS

Paisagem em Linha – Bienalsur Buenos Aires

Hormiga-Pájaro – gnration

Festival DDD-Dias de Dança – Vastidão

Festival DDD-Dias de Dança – Paisagem Boldo

Walk & Talk Arts Festival

Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas 

Novo Negócio/ZDB

ONDE & QUANDO

V a s t i d ã o. Materiais Diversos,  29 de Setembro, 2024. Alcanena, PT.

Paisagem Boldo. Centro Cultural Belém. 29 de Junho-14 de Julho, 2024. Lisboa, PT.

V a s t i d ã o. Centro Cultural Belém, Lisboa. 22 e 23 de Junho, 2024. Lisboa, PT.

Vastidão. Sesc Vila Mariana, 11 e 12 de Maio. São Paulo, BR.

Paisagem em Linha. Sesc Bom Retiro, 4 e 5 de Maio, 2024. São Paulo, BR.

Roda-Viva. NAVE, 15 e 16 de Março 2024. Santiago, CL.

Paisagem em Linha. Festival Pliegues & Despliegues, 21 de Setembro 2023. Bogotá, CO.

Vastidão. Festival Internacional de Danza Contemporanea de Uruguay – FIDCU, 8 de Setembro, 2023. Montevidéu, UY.

Paisagem em Linhha. BIENALSUR,  Agosto, 2023. Buenos Aires, AR.

PÁJARO-HORMIGA. Estreia. GNRation, Setembro 3 & 4, 2022.  Braga, PT.

Paisagem Boldo. Festival Planalto. Julho 4-9, 2022. Moimenta da Beira, PT.

Paisagem em linha + V a s t i d ã o (Estreia) + Paisagem Boldo (Estreia). Festival DDD & Museu de Serralves. Abril 19-24, 2022. Porto, PT.

V a s t i d ã o. Espaço do Tempo. Residência de criação.  Março 28 – Abril 6. Montermor-o-Novo, PT.

Paisagem em linha (estreia chilena) + v a s t i d ã o (work in progress). NAVE. Dezembro 15 e 16, 2021. Santiago, CL.

Paisagem em linha (estreia portuguesa). Galeria Avenida da Índia, Festival Temps d´Images. Outubro, dias 22 e 23, 2021. Lisboa, PT.

LAWAL. Estreia. Festival Walk & Talk. Julho 16-25, 2021. Ponta Delgada, Açores, PT.

 

RESIDÊNCIAS

Paisagem Boldo. Arquipélago – Centro de Artes Contemporáneas. Fevereiro 20-26, 2022. Ribeira Grande, Açores, PT.

v a s t i d ã o (work in progress). Residência de criação + ensaio aberto. Fundição Progresso & Museu de Arte Moderna – Mam. Dezembro 20-22, 2021. Rio de Janeiro, BR.

Paisagem em linha  + v a s t i d ã o (work in progress). Residência de criação + laboratório. NAVE.  Dezembro 6-14, 2021. Santiago, CL.

Cobertos pelo céu. Residência de criação e laboratório. Casa de Dança de Almada.  Setembro 20-30, 2021. Apresentação pública do laboratório: dia 30. Almada, PT.

Cobertos pelo Céu. Residência de criação. Cia Instável e Museu Serralves. Maio 10-14, 2021. Porto, PT.

Cobertos pelo Céu. Residência de criação. ZDB / Novo Negócio. Maio 3-7, 2021. Lisboa, PT.

Cobertos pelo Céu. Residência de criação. Casa de Cultura de Ílhavo e Fábrica das ideias/23 Milhas. Abril 6-18, 2021. Ílhavo, PT.

Cobertos pelo Céu. Residência de criação. ZDB / Novo Negócio. Março 1-20, 2021. Lisboa, PT.

Cobertos pelo Céu. Residência de criação. Programa de Residências Artísticas do Pico do Refúgio & Arquipélago – Centro de Artes Contemporáneas. . Janeiro 11-17, 2021. Ribeira Grande, PT.

Cobertos pelo céu. Residência de criação. DEVIR/CAPA- Centro de Artes Performativas do Algarve. Novembro, 16-26, 2020. Faro, PT.

COBERTOS PELO CÉU

Concepção, direção e coreografia Gustavo Ciríaco

Artistas e coreógrafos convidados  Ana Laura Lozza (Ar), Barbara Hang (Ar), Cláudia Dias (Pt), Luciana Lara (Br), Javiera Peón-Veiga (Cl), Jonathan Ulliel Saldanha (Pt), João Saldanha (Br), João Gabriel Oliveira (Pt) e Michelle Moura (Br)

Artistas convidadas – DAS THIRDcycle Forum Rosie Heinrich (Uk) e Siegmar Zacharias (De)

Performers- Lisboa André Cabral (Pt), Alina Folini (Ar), Bartosz Ostrowski (Pl), Filipe Caldeira (Pt), Gabriela Dória (Br),  Giulia Romitelli (It), Luis Guerra (Pt), Mário Martins Fonseca (Pt), Sara Zita Correia (Pt), Tiago Barbosa (Pt) e Vânia Doutel (Pt)

Performers – Santiago Belén Alfaro (CL), Paz Marin (CL), Francisco Bagnara (CL), Luche Moreno (CL), Trude Flem (CL) y Joaquín Catalán (CL), Camila Peña (CL), Sara Lecaros (CL), Danya Jerez (CL), Macarena Alvarez (CL), Octavia Luz (CL), Andrea Contreras
performers – Rio de Janeiro Bruno Levorin (Br), João Victor Cavalcanti (Br), Leo Nabuco (Br), Laura Samy (Br), Milena Codeço (Br), Priscila Maia (Br) e Rómulo Galvão (Br)

Performers – Buenos Aires

Performers – Brasília Carolina Hofs, Clara Salles, Déborah Alessandro, João Gabriel

Desenho de luz Tomás Ribas (Br/Pt)

Projeto arquitetónico e cenografia Gonçalo Lopes (Pt)

Direção Técnica Santiago Tricot (Uy)

Fotografia Felipe Pardo, Gui Garrido, Gustavo Ciríaco, João Grama, Mariana Lopes, Mayra Sérgio, Mia Ercoli, Sara Pinheiro, Tomás Ribas, Thomas Lenden

Administração Missanga Antunes

Direção de produção Sinara Suzin

Co-produção Fundição Progresso (Rio de Janeiro) e NAVE (Santiago)

Realização Efémera Colecção – Associação Cultural 

Apoio institucional  THIRD –  Dance and Theatre Academy – Amsterdam University of the Arts

Apoios a residência DEVIR – Centro de Artes Performativas do Algarve (Faro/Pt), Pico do refúgio (Rabo de Peixe/Pt), Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas (Ribeira Grande/Pt), 23 Milhas/Fabrica de Ideias (Gafanha de Nazaré/Pt), GNRation (Braga/Pt), Casa de Dança de Almada (Almada/Pt), Cia Instável e Museu Fundação de Serralves (Porto/Pt) e Espaço Novo Negócio/ZDB (Lisboa/Pt), Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro), NAVE (Santiago)

Apoio República Portuguesa – Cultura | DgARTES – Direção-Geral das Artes

Cobertos pelo Céu – um passeio para o infinito conta com o Apoio à Co-produção de Espetáculo 2020-2021 /IBERESCENA.

 

Fotografias Daniel Delhaye, Felipe Pardo, Felipe Sardinha, Gui Garrido, Gustavo Ciríaco, João Grama, Mariana Lopes, Mayra Sérgio, Mia Ercoli, Pedro Peixoto, Sara Pinheiro, Tomás Ribas e Thomas Lenden.